Pulmão de Crack – Um Relato de Caso
Conteúdo do artigo principal
Resumo
A cocaína é um alcaloide extraído das folhas de Erythroxylon coca e foi isolada pela primeira vez em 1859. A cocaína provoca toxicidade aguda e crônica, afetando praticamente todos os sistemas orgânicos. Um paciente masculino de 32 anos, com histórico de epilepsia pós-traumática e abuso de substâncias, incluindo canabinoides e cocaína, apresentou-se ao Departamento de Emergência após convulsões autolimitadas. A gasometria arterial revelou insuficiência respiratória hipoxêmica, enquanto exames de sangue não mostraram alterações significativas. A tomografia computadorizada (TC) torácica demonstrou consolidações extensas na maioria dos lobos pulmonares inferiores, médios e superiores. A ultrassonografia transtorácica sugeriu sinais de cardiomiopatia não compactada, e a ultrassonografia pulmonar revelou padrão de linhas B bilateralmente. O paciente foi admitido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido à insuficiência respiratória que necessitou de ventilação invasiva. Com o tempo, a insuficiência respiratória apresentou melhora progressiva, permitindo a extubação no oitavo dia de internação. Ele recebeu alta após duas semanas e foi encaminhado para acompanhamento em Neurologia, Psiquiatria e Cardiologia. Uma TC de controle realizada três semanas após a alta mostrou resolução das consolidações pulmonares e opacidades em vidro fosco. Além disso, uma ressonância magnética cardíaca realizada cinco semanas após a alta descartou a cardiomiopatia não compactada. As alterações pulmonares induzidas pela cocaína são diversas e frequentemente inespecíficas, tornando o diagnóstico dependente de uma correlação clínica e radiológica minuciosa. Neste caso, as alterações parenquimatosas pulmonares observadas na TC e a insuficiência respiratória grave levantaram suspeita de pulmão de crack. Outras potenciais causas, como edema pulmonar cardiogênico e neurogênico, foram excluídas.
Detalhes do artigo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Referências
Stolberg VB. The use of coca: prehistory, history, and ethnography. J Ethn Subst Abuse. 2011 Apr;10(2):126-46. doi:10.1080/15332640.2011.573310.
Tella SR, Schindler CW, Goldberg SR. Cardiovascular effects of cocaine in conscious rats: relative significance of central sympathetic stimulation and peripheral neuronal monoamine uptake and release mechanisms. J Pharmacol Exp Ther. 1992 Aug 1;262(2):602-10.
Smith JA, Mo Q, Guo H, Kunko PM, Robinson SE. Cocaine increases extraneuronal levels of aspartate and glutamate in the nucleus accumbens. Brain Res. 1995 Jun 19;683(2):264-9. doi:10.1016/0006-8993(95)00383-2.
Lange RA, Cigarroa RG, Yancy CW Jr, Willard JE, Popma JJ, Sills MN, et al. Cocaine-induced coronary-artery vasoconstriction. N Engl J Med. 1989 Dec 7;321(23):1557-62. doi:10.1056/NEJM198912073212301.
Kolodgie FD, Wilson PS, Cornhill JF, Herderick EE, Mergner WJ, Virmani R. Increased prevalence of aortic fatty streaks in cholesterol-fed rabbits administered intravenous cocaine: the role of vascular endothelium. Toxicol Pathol. 1993 Sep-Oct;21(5):425-35. doi:10.1177/019262339302100501.
Maeder M, Ullmer E. Pneumomediastinum and bilateral pneumothorax as a complication of cocaine smoking. Respiration. 2003 Jul-Aug;70(4):407. doi:10.1159/000072905.
Ettinger NA, Albin RJ. A review of the respiratory effects of smoking cocaine. Am J Med. 1989 Dec;87(6):664-8. doi:10.1016/s0002-9343(89)80401-2.
Smollin CG, Hoffman RS. Cocaine. In: Goldfrank's Toxicologic Emergencies. 11th ed. Nelson LS, Howland MA, Lewin NA, Smith SW, Goldfrank LS, Hoffman RS, editors. New York: McGraw Hill; 2019. p. 1124.
Lee HS, LaMaute HR, Pizzi WF, Picard DL, Luks FI. Acute gastroduodenal perforations associated with use of crack. Ann Surg. 1990 Jan;211(1):15-7. doi:10.1097/00000658-199001000-00003.
Novielli KD, Chambers CV. Splenic infarction after cocaine use. Ann Intern Med. 1991 Feb 1;114(3):251-2. doi:10.7326/0003-4819-114-3-251.
Edmondson DA, Towne JB, Foley DW, Abu-Hajir M, Kochar MS. Cocaine-induced renal artery dissection and thrombosis leading to renal infarction. WMJ. 2004;103(7):66-9.
Flaque-Coma J. Cocaine and rhabdomyolysis: report of a case and review of the literature. Bol Asoc Med P R. 1990 Sep;82(9):423-4.
Libman RB, Masters SR, de Paola A, Mohr JP. Transient monocular blindness associated with cocaine abuse. Neurology. 1993 Jan;43(1):228-9. doi:10.1212/wnl.43.1_part_1.228-a.
Midthun KM, Nelson LS, Logan BK. Levamisole—a toxic adulterant in illicit drug preparations: a review. Ther Drug Monit. 2021 Apr;43(2):221-8. doi:10.1097/FTD.000000000000085.
Oliva F, Mangiapane C, Nibbio G, Berchialla P, Colombi N, Vigna-Taglianti FD. Prevalence of cocaine use and cocaine use disorder among adult patients with attention-deficit/hyperactivity disorder: a systematic review and meta-analysis. J Psychiatr Res. 2021 Nov;143:587-98. doi:10.1016/j.jpsychires.2020.11.021.
Weiford B, Subbarao V, Mulhern K. Noncompaction of the ventricular myocardium. Circulation. 2004 Jun 22;109(24):2965-71. doi:10.1161/01.CIR.0000132478.60674.D0.
Prasad A, Lerman A, Rihal CS. Apical ballooning syndrome (Tako-Tsubo or stress cardiomyopathy): a mimic of acute myocardial infarction. Am Heart J. 2008 Mar;155(3):408-17. doi:10.1016/j.ahj.2007.11.008.
Baumann A, Audibert G, McDonnell J, Mertes PM. Neurogenic pulmonary edema. Acta Anaesthesiol Scand. 2007 Apr;51(4):447-55. doi:10.1111/j.1399-6576.2007.01276.x.
Almeida RR, Zanetti G, Souza AS Jr, et al. Cocaine-induced pulmonary changes: HRCT findings. Braz J Pneumol. 2015 Jul-Aug;41(4):323. doi:10.1590/S1806-37132015000000025.
Giacomi FD, Srivali N. Cocaine use and crack lung syndrome. QJM. 2019 Feb;112(2):125-6. doi:10.1093/qjmed/hcy255.
Greenberg A, Stammers K, Moonsie I, Jose RJ. All puffed out—a case of crack lung. Clin Med. 2017 Apr;17(2):186-7. doi:10.7861/clinmedicine.17-2-186.
Gorelick DA. Testing for substances of abuse. In: American Psychiatric Association Publishing Textbook of Substance Use Disorder Treatment. 6th ed. Brady KT, Levin FR, Galanter M, Kleber HD, editors. Washington (DC): American Psychiatric Association; 2021.